Em meio a uma enorme crise em que mais de 11 milhões de pessoas estão em
situação de desemprego no Brasil, há um setor em que isso não ocorre: o de TI.
Na área, há uma enorme quantidade de vagas que não conseguem ser preenchidas, e
isso acaba criando algumas situações inusitadas em um país com tanta gente
procurando trabalho.
Uma dessas situações acontece no Porto Digital do Recife, o mais
relevante parque tecnológico urbano do Brasil, que é composto por 328 empresas
que possuem faturamento conjunto de R$ 1,9 bilhão por ano. O Porto possui mil
vagas em aberto na área de TI, mas não consegue preenchê-las pela absoluta
falta de capacitação dos candidatos.
Em apenas uma das empresas, mais de cinco mil currículos foram avaliados
nos últimos meses, mas nenhum possuía as qualificações básicas necessárias para
preencher as vagas, que procuram pessoas recém-formadas e oferecem salários
entre R$ 2.500 e R$ 3.000.
De acordo com Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, existe um
aumento significativo da demanda porque muitas empresas que não são
necessariamente da área de tecnologia estão contratando profissionais para
fazer a transformação digital. Por esse motivo, a expectativa é de que o Porto
dobre o número de funcionários até 2025.
Ao mesmo tempo, ele ressalta que o programador qualificado em início de
carreira é um perfil que está em muita falta no mercado, assim como o engenheiro
de software sênior. Já Pedro Henrique Macedo, diretor de negócios da In Loco,
aponta para um complexo problema na própria formação do profissional, que mesmo
quando possui um diploma muitas vezes não tem o conhecimento necessário para a
vaga,
Esse problema é complexo porque não reflete uma “falta de
comprometimento” do profissional para com seus estudos, mas um erro no próprio
sistema de ensino brasileiro. De acordo com ele, falta para esses profissionais
uma formação mais sólida em algoritmos, e isso ocorre porque a maioria das
universidades apenas ensina aos alunos como aplicar algoritmos e ferramentas
prontos, sem estudar os fundamentos para que eles possam desenvolver suas
próprias soluções. Para o diretor, é essa deficiência acadêmica que mais tem prejudicado
o processo de contratação.
Para Macedo, a solução é simples: investir na formação desses
profissionais, pois essa é a única coisa que irá garantir que o Brasil não
fique para trás nesse momento de transformação digital. Mas esse não parece ser
o caminho que estamos trilhando, já que este ano já foram cortadas mais de
cinco mil bolsas de pós-graduação financiadas pela CAPES, enquanto R$ 5,8
bilhões do orçamento do MEC estão bloqueados e não podem ser usados para
qualquer tipo de investimento na educação
Fonte: Folha