O maior inimigo da performance do empreendedor é ele mesmo

Empreender é tarefa difícil. Mas empreender e ter uma empresa de sucesso é para poucos. Não tente fazer tudo sozinho!

Meus investidores não me entendem e na verdade colaboram muito pouco. Meu time não consegue pensar fora do operacional. São poucos que realmente entendem para onde quero levar a empresa. Se eu não estivesse aqui, não sei como eles fariam. Não consigo contratar as pessoas certas, tenho que mudar periodicamente. Estou decepcionado com o cara de vendas. O CTO? Bem em outros tempos não seria nem analista. Eu trabalho demais e gosto disso, mas preciso ficar mais tempo com a família. Como crio um dia de 30 horas? São Francisco semana que vem? Eu vou…mas terei que cobrar o time mandando mensagens periódicas, pois ..se eu não estou aqui…

Você, empreendedor, já pensou ou disse alguma dessas frases antes? Se essas reclamações são constantes e você parece estar sempre soterrado por uma montanha de problemas, cuidado. Pode ser que suas reações sejam autodefesas e que, no fundo, a culpa não seja do mundo, mas sim de algo que você pode solucionar. Podem ser desculpas que não te ajudam a enxergar a verdadeira raiz da questão.

A necessidade de parcerias

Durante minha carreira, tenho acompanhado e auxiliado muitos empreendedores no seu caminho de evolução para tornarem-se CEOs. Notadamente nos negócios de tecnologia e de crescimento acelerado, que são os principais casos em que tenho atuado nos últimos 20 anos, essa transição para CEO não é trivial. É para poucos e determina muitas vezes o sucesso do negócio. Quem empreende ou comanda uma empresa sabe que é responsável pelas grandes decisões no final do dia. Isso cria uma forte sensação de solidão e uma grande dificuldade de ter acesso a opiniões honestas de pessoas próximas, já que muitas dessas pessoas não estão alinhadas com os princípios do negócio (“por que eles não entendem para onde estou conduzindo a empresa?”) ou não são capacitadas para dar suporte (“estão comigo há muito tempo, são leais, mas são fracos) ou ainda não querem magoar o empreendedor (“se eu falar para ele/ela o que penso ou que está errado serei mandado embora, é melhor só concordar”). Como resolver esse dilema?

O equilíbrio emocional do empreendedor tem um papel fundamental no processo de estabilidade de um negócio. Parte desse equilíbrio é conquistado quando o empreendedor divide responsabilidades e compartilha pressões que o tornam menos produtivo. Em algumas empresas, por exemplo, há a figura do conselho consultivo, para ter acesso a pessoas que deem orientações em momento de estresse e angústia sem que estejam contaminados pelos dilemas do dia a dia da empresa.

Ficar sozinho é péssimo para o empreendedor do ponto de vista emocional, mas também operacional. Se o empreendedor centraliza todas as funções, além de sobrecarregado, vai permitir que a empresa seja apenas do tamanho que ele consegue administrar. Além disso, vai abrir mão de outras prioridades em sua vida e vai ser totalmente consumido pelas questões do seu negócio.

Para o empreendedor dar o melhor de si e levar sua empresa ao sucesso, ele precisa reconhecer que não pode fazer tudo sozinho. Ele precisa de suporte ao longo do tempo para construir o seu sonho grande. As pirâmides do Egito, a basílica de São Pedro e Golden Gate não foram obras de uma pessoa só. A sua empresa também não deve ser.

É natural que em alguns momentos as pessoas passem por rupturas e façam algumas escolhas. Acho muito provável, por exemplo, que o Bill Gates tenha pensado que até administraria algumas coisas melhor na Microsoft, mas sabia que se continuasse 100% focado ali, teria que abrir mão de coisas importantes, como a família e seu trabalho filantrópico.

A importância do planejamento

Uma característica que percebo em muitos empreendedores é que eles não se planejam. Eles simplesmente performam, dão seu máximo todo dia, avançando à fronteira que enxergam em sua frente. Mas se a empresa não tem um planejamento, é como se o empreendedor se tornasse o guru do seu próprio negócio. A equipe, para saber o que fazer, precisa olhar para ele e segui-lo. É como se dissesse: “confiem em mim, eu sei o que estou fazendo, venham junto”.

Mas conforme a empresa cresce, “confie em mim” deixa de ser suficiente. Para saltar de um faturamento de R$ 10 milhões para R$ 100 milhões, o empreendedor precisa de gente boa. Pessoas com uma formação complementar a que existe hoje. Gente que já tenha passado por alguns dos desafios que terei ou que tenha potencial. Gente sem medo de perder o emprego.  Mas como ele vai contratar gente boa se não consegue dizer para onde está indo? Para que a equipe entregue o que o empreendedor deseja, o empreendedor tem que saber o que quer, indicar o norte e comunicar o que deseja.

Além disso, criar uma cultura de seguidores coloca uma tremenda pressão no empreendedor. Imagine que são 200 funcionários que, o tempo todo, esperam do fundador a direção que devem tomar. Chega-se a uma situação complexa de gestão e deixa o empreendedor em uma posição muito delicada.

Construção compartilhada

Vamos pensar no empreendedor de tecnologia típico dos Estados Unidos. Boa parte deles sai de alguma das grandes escolas de negócios. A educação formal ajuda boa parte desses empreendedores a saberem que sozinhos não chegarão a lugar algum. Têm a gana empreendedora, mas buscam auxílio de pessoas com capacidades e conhecimentos complementares.

Agora, voltemos para o Brasil. A maior parte dos empreendedores de tecnologia até hoje é um self made man ou woman. Saiu de uma situação simples, algumas vezes começou por necessidade e defende seu negócio com unhas e dentes. Aqui, cultivamos mais o holofote do que o resultado. E cultivamos o show de um homem só. O empreendedor muitas vezes não faz esse trabalho de se complementar. Ele não se planeja e quando alguém o questiona, tem uma atitude defensiva. Nesse cenário, a chance de ter algum desequilíbrio emocional não é pequena. Qual o efeito disso? Temos um grande número de empresas com alto potencial, mas que acabam condenadas a ficarem do tamanho que o empreendedor consegue administrar. Sem ajuda e sem equipe que o questione o que podia ser algo que realmente faria a diferença para várias pessoas vira no máximo uma boutique, quando muito de alguma relevância para o subconjunto do subconjunto do mercado.

Busco aqui um exemplo local, que não é de tecnologia, mas é de negócios. Para o desenvolvimento da Ambev, o trio que hoje comanda o 3G sempre teve um olhar de dividir para crescer. Mas eles não dividem só problemas e dúvidas – isso não funciona. Dividem projetos e têm a humildade para construir juntos, contando com a ajuda de gente como Vicente Falconi e Jim Collins, além de gente que conhece de bebidas entre outros.

Geralmente, o empreendedor só percebe que está sendo o limite de seu próprio negócio quando começa a ver o barco afundar ou quanto começa a se comparar com outras empresas. Quanto mais cedo ele aceitar que tem limitações e que precisa se cercar de outras pessoas com outras experiências, pode ser mais fácil corrigir os gargalos e tirar o peso emocional que o show de um homem só carrega.

Fonte: https://endeavor.org.b

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